Sabemos como os modismos são fortes em nossa sociedade, e a educação é um campo fértil para eles. Cada época é marcada por um tema, personalidades ou alguma novidade, e muitas escolas acabam embarcando, para não parecer que estão ficando para trás.
No caso das formações continuadas, elas não precisam tratar necessariamente de temas gerais, como uso de tecnologias, ensino híbrido, desenvolvimento socioemocional, comunicação não violenta, entre vários outros, relevantes e muito em voga atualmente, ou mesmo promover o encontro das equipes com especialistas que possam apresentar e debater as ideias de algum educador “na crista da onda” no momento. Esses temas podem não ser os mais urgentes ou necessários para muitos professores, muitos dos quais gostariam de compreender melhor ou mais profundamente como e por que ensinar o que ensinam.
Lee Shulman, emérito professor da Faculdade de Educação de Stanford, enumerou o que considera os 7 conhecimentos essenciais para uma prática boa prática pedagógica:
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Conhecimento do conteúdo (conceitos, informações, fundamentações teóricas, etc.);
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Conhecimento pedagógico geral (em assuntos mais gerais, que transcendem as disciplinas, tais como a gestão de sala de aula);
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Conhecimento pedagógico do conteúdo (como ensinar esse conteúdo para que ele possa ser efetivamente aprendido);
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Conhecimento do currículo (documentos legais – oficiais e da própria escola, além dos materiais específicos da disciplina e do ano escolar);
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Conhecimento das características psicológicas e sociológicas dos alunos com quem se trabalha;
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Conhecimento dos contextos educacionais desde as dinâmicas da sala de aula até o sistema educacional como um todo);
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Conhecimento das finalidades, propósitos e valores educacionais e de suas bases filosóficas e históricas.
Essa lista dá uma boa medida da complexidade que é o trabalho dos professores, e os muitos conhecimentos que ele precisa mobilizar para desenvolver um bom trabalho. Quando se considera as fragilidades na formação inicial de boa parte dos professores na atualidade, essa questão ganha mais relevância, ampliada ainda mais quando se vive um momento de implantação de novos currículos (decorrentes da implementação da BNCC e da homologação dos referenciais curriculares recentemente aprovados pelas Secretarias da Educação de todas as unidades da federação).
Por isso, parece desejável ou apropriado que os gestores encarregados de planejar as formações continuadas para o próximo ano letivo se perguntem o quanto suas equipes realmente dominam esses 7 âmbitos e como a escola ou a rede pode contribuir para o aprimoramento dos conhecimentos a eles associados. Não resta dúvida de que sem o domínio deles todos, o trabalho realizado não alcançará a qualidade necessária para assegurar o aprendizado de todos os estudantes. E nunca foi tão crucial garantir o aprendizado deles, depois desse período mais do que conturbado que vivemos, em que muitos não alcançaram os objetivos de aprendizagem almejados.
Em todos os ramos de atividades, existe cada vez maior preocupação dos responsáveis pela gestão dos recursos humanos em proporcionar às equipes de colaboradores oportunidades de aperfeiçoamento e crescimento profissional. Parte importante dos investimentos nessa área são alocados em cursos e formações para as equipes. Entre os mais jovens, inclusive, muitos consideram essas oportunidades tão ou mais relevantes do que a própria remuneração quando estão procurando uma colocação profissional, pois entendem que, ao agregar experiência e novos conhecimentos, podem continuar progredindo em suas carreiras. Embora essa cultura nem sempre faça parte do meio escolar brasileiro, é provável que uma escola ou uma rede delas seja reconhecida e valorizada por esse tipo de preocupação e, assim, possa atrair os melhores profissionais, o que é, sem dúvida, um grande desafio na atualidade.
Vitória Rodrigues e Silva
Fundamento Assessoria