No mundo acadêmico, ser laureado com um prêmio Nobel é a maior consagração que um pesquisador pode alcançar. Todos os anos, alguns cientistas são premiados em uma das quatro modalidades científicas: Física, Química, Fisiologia e Medicina e Economia. Literatura e Paz, as duas outras áreas também contempladas, consagram outro tipo de atuação.
Neste ano, no dia 11 de outubro, foram anunciados os ganhadores do prêmio na área da Economia. Os três pesquisadores já eram reconhecidos pelas relevantes contribuições que trouxeram para os experimentos naturais no campo econômico, em que não é possível realizar experiências com situações controladas (e ideais) dos laboratórios, mas observando dados e a própria realidade concreta. Os experimentos naturais são situações da vida real que os economistas estudam e analisam para determinar relações de causa e efeito.
Um dos agraciados, David Card, há décadas investiga os impactos que a educação, especialmente o tempo de escolarização, pode trazer para a economia. Evidentemente que se trata de pesquisa das mais complexas, porque uma miríade de fatores interfere: a qualidade da educação, as condições parentais e sociais dos alunos, o nível de escolaridade da população do país, entre outros. Mas o que ele conseguiu demonstrar por meio de seus estudos é que, em média, cada ano de estudos representa cerca de 9% a mais de renda. Aplicada no Brasil, estudos concluíram que os ganhos podem ser ainda maiores, de quase 200% (ou 3 vezes) entre os trabalhadores que têm o Ensino Médio completo e uma graduação concluída, segundo pesquisa divulgada em 2020 (com dados do ano anterior).
A premiação tem especial significado neste momento, quando há expectativa do retorno à normalidade da vida social e econômica. Isso porque, como se sabe, o Brasil foi um dos países que mais tempo deixou os estudantes longe da escola e a metodologia desenvolvida por David Card e Guido Imbens pode ajudar a dimensionar os efeitos que esse distanciamento poderá representar para o futuro do país. Segundo o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, a metodologia ajudará a identificação não só as perdas imediatas nas aprendizagens, mas os efeitos disso para a renda dessas crianças e jovens ao longo de suas vidas, especialmente quando ficam cada vez mais evidente a importância e a necessidade de se oferecer a devida formação para a inserção no mundo do trabalho, com claros impactos para a renda nacional.
O economista Sergio Firpo, professor de econometria para avaliação de políticas públicas, considera as contribuições metodológicas dos premiados relevantes: “O que eles têm feito é criar uma metodologia que, a partir de certas premissas, consegue extrair da realidade as informações necessárias para avaliar o impacto de políticas públicas”. E ninguém duvida que políticas públicas consistentes e duradouras na área educacional é algo de que o Brasil necessita mais do que nunca.