Provocações

Rosa Alegria apresenta-se como futurista, e nessa condição publicou um artigo no mês de agosto no site Porvir, lançando uma provocação para os educadores: por que se fala tanto do futuro da educação, mas quase nada se diz acerca do futuro na educação? 

No artigo, ela argumenta que a escola precisa contemplar em seus currículos tanto assuntos ligados ao passado e ao presente, mas também em relação ao futuro. Essencialmente, Rosa adverte que atualmente temos uma relação cultural com o futuro muito diferente daquela que gerações anteriores tiveram, em que o futuro era algo com o qual se especulava ou se adivinhava. Pelo menos desde que Alvin Toffler, no início dos anos 1970, ajudou a disseminar uma outra concepção sobre o futuro, identificando tendências, a direção para a qual seguiam os comportamentos, as tecnologias emergentes e as próprias relações sociais, o modo como o futuro passou a ser encarado vem mudando significativamente e, hoje, isso é bastante evidente. 

Como historiadora, considero que o modo como os jovens lidam com o passado é também muito diferente. Conceitos e noções como memória, patrimônio, legado são compreendidos a partir de outros referenciais, especialmente porque os recursos tecnológicos possibilitam experiências sensorialmente muito diversas. Basta ver o que é a fotografia para ele ou o que a IA propiciou recentemente aos visitantes da exposição “Eu, Ayrton Senna da Silva”, que podem escutar o famoso corredor falando – com sua própria voz – coisas que nunca falou. No início da próxima década será possível, com a tecnologia 6G, promover reuniões em que os participantes, em diferentes locais do planeta, estarão presentes em um ambiente virtual em 3D, interagindo. 

Esses dois exemplos são o bastante para indicar a necessidade que os jovens e mesmo as crianças de hoje têm de começar a refletir sobre os impactos éticos, psicológicos, econômicos e em outras esferas que essas inovações todas já começaram a provocar. Está aí o retumbante sucesso da minissérie coreana Round 6 para comprovar isso. A escola, evidentemente, terá um papel relevante nessas discussões, oferecendo oportunidades para os alunos pensarem essas questões a partir de diferentes pontos de vista. E nós, professores, precisamos estar preparados para mais essa tarefa, a que Rosa dá o curioso nome de alfabetizadores do futuro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *