Quem utiliza livros didáticos na Educação Básica frequentemente observa a presença de um recurso editorial valioso para ajudar os estudantes na compreensão dos textos: os glossários.
Você sabe a origem deles?

Na Idade Média, copistas dedicavam-se com grande zelo a reproduzir manuscritos de texto sagrados. Alguns mestres, para auxiliar os leitores, especialmente seus estudantes, escreviam nas margens (ou entre as linhas) comentários explicativos ou notas esclarecedoras. Essas notas eram chamadas de glosa. Na imagem acima vemos um exemplo muito singular de texto glosado, pois não se trata de texto sagrado, mas literário (Gesta Danorum [Feitos dos dinamarqueses], Fragmento de Angers, página 1, frente, documento do século XII-XIII), raríssimo à época.
Fazer a glosa de um texto tinha caráter pedagógico, pois a leitura e o entendimento desses textos constituíam o cerne do trabalho educativo nas escolas – essencialmente, ler para os alunos e solicitar que eles lessem “as autoridades” – que funcionavam na maioria das vezes anexas às catedrais.
Sobre as glosas, Jacques Verger, em “Cultura, ensino e sociedade no Ocidente nos séculos XII e XIII” (EDUSC, 2001), escreveu:
No início do século XII, o principal centro de estudos bíblicos era certamente a escola catedral de Laon [França], então dirigida pelo mestre Anselmo. […] É igualmente a Anselmo e à sua escola que se deve o impulso decisivo da glosa, isto é, da compilação, copiada entre as linhas e nas margens do texto sagrado, de múltiplas explicações tiradas dos Doutores e às vezes mesmo de autores mais recentes, para esclarecer o, ou melhor, os sentidos da Bíblia. Iniciado na época carolíngia, retomado em grande escala em Laon, este enorme trabalho erudito seria completado em Paris, por volta da metade do século, para dar origem em sua forma definitiva, à “glosa comum”, sem o auxílio da qual ninguém imaginaria mais, na Idade Média, ler um texto sagrado. (p. 118-119).
Hoje, os glossários têm a função mais restrita, de esclarecer o significado ou o sentido de um termo ou expressão presente no texto. Tecnicamente, porém, em obras didáticas, não devem servir de local para a explicação de conceito central do tema abordado naquele texto. Nesses casos, o recurso editorial precisa ser de outro tipo.
(https://eldebatedehoy.eldebate.com/noticia/cultura/02/05/2021/la-glosa-como-creacion/ )