O surgimento das universidades na Europa

Concluindo a pequena série de notas inspiradas na leitura do livro “Cultura, ensino e sociedade nos séculos XII e XIII”, de Jacques Verger (EDUSC, 2001), comento um dos aspectos interessantes que o autor destaca ao explicar e analisar o contexto social e político do surgimento de algumas universidades na Europa Ocidental no século XIII. Verger explica que a criação de várias delas se deveu à intervenção direta dos príncipes e reis [no momento em que eles procuravam ampliar seus poderes frente à nobreza feudal, no processo que daria origem a várias monarquias nacionais europeias] e também dos papas, em momento de confronto frente a autoridades religiosas locais, também elas tradicionalistas e resistentes às mudanças em curso. Diz Verger:

As universidades forneciam à Igreja e aos príncipes os auxiliares de que eles precisavam para exercer sua ação no próprio momento em que eles percebiam os limites das capacidades ou da fidelidade das elites tradicionais – nobreza cavalheiresca e clero originário da aristocracia, ligado aos valores ascéticos tradicionais da cultura monástica. […] Os príncipes tinham necessidade de secretários instruídos capazes de manter seus arquivos e redigir suas cartas, de juristas competentes pra defender seus direitos e garantir a seus súditos a boa e pronta justiça que era o próprio fundamento da legitimidade monárquica. […] Quanto à Igreja, ela também precisava, além de pregadores bastante instruídos para polemizar com os hereges ou convencer os fiéis, de juízes e de administradores para fazer justiça (era a época em que se multiplicavam os tribunais de ofício), gerir sua fortuna considerável e ameaçada e fazer funcionar um aparelho burocrático cada vez mais pesado. (p. 245)

Ou seja, o surgimento das universidades foi criação do seu tempo, um tempo de mudanças profundas, em que uma nova era histórica estava em gestação.

Vale mencionar que instituições equivalentes às universidades ocidentais existiam na Ásia havia séculos. Na Índia, a universidade de Nalanda, fundada em 427 d.C., foi um importante e influente centro de estudos de difusão de conhecimentos médicos, matemáticos, astronômicos e de lógica, além de grande centro de estudos do budismo por séculos. Hoje, só restam os vestígios arqueológicos dessa monumental universidade, destruída que foi em 1190, por forças militares invasoras liderados por um general turco-afegão, que ateou fogo em todo o complexo, destruindo inclusive sua formidável biblioteca. Curiosamente, na mesma época que começavam a florescer as universidades no continente europeu e o ocidente volta a emergir como força política.

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