Quem fica parado é poste

O texto de Phil Lambert, publicado pelo site Porvir no final de setembro, aborda um assunto que está em grande evidência não só no Brasil, mas em muitos países: as mudanças nos currículos escolares capazes de fazer frente ao presente e ao futuro dos estudantes.

A aprovação recente da BNCC determinou a implementação de novas diretrizes curriculares para todo o país, com inegáveis impactos para todos os segmentos escolares. E os aspectos apontados por Lambert estão todos, em maior ou menor grau, contemplados nos referenciais curriculares que as secretarias elaboraram, os conselhos de cada estado homologaram e que as escolas, agora, precisam implementar.

Ninguém pode negar que a sociedade como um todo, e o mundo do trabalho em particular, estão em profunda transformação e, por isso, a educação precisa dar conta de preparar as crianças e jovens para um mundo muito diferente daquele do passado (e que a pandemia parece ter ajudado a acelerar). Contudo, há largos setores da sociedade, especialmente na Educação, que consideram a hipervalorização das chamadas competências, sobretudo das socioemocionais, como algo muito prejudicial para a formação dos estudantes brasileiros, pois tais competências atendem a pautas políticas (ou necessidades de caráter) neoliberais, comprometidas apenas com a precarização do trabalho, o aumento das desigualdades e o aprofundamento da exclusão social. 

A questão que precisa ser discutida com seriedade e enorme urgência é: se as mudanças curriculares que estão sendo promovidas no Brasil estão de acordo com interesses dos grupos sociais que sempre dominaram a vida social, política e econômica, a manutenção dos currículos vigentes até recentemente seguramente não será a melhor alternativa, pois eles também são inquestionavelmente motores (quando não aceleradores) da exclusão e da desigualdade social que marcam profundamente nosso país. Basta ver os níveis de evasão e reprovação a cada final de ano letivo. A quantidade de estudantes que concluem o Ensino Médio sem domínio pleno da leitura, incapazes de distinguir em um texto o que é informação e opinião. Em meio a esse embate eminentemente político e ideológico, há milhões de estudantes, que estão criando nesse exato momento os alicerces para o seu futuro. E milhares de escolas e professores precisando determinar que mudanças colocarão em movimento a partir do próximo ano, pois todas as postergações e prorrogações possíveis já foram feitas. 

O momento é muito grave, as consequências dele se estenderão por muito tempo. É preciso que as escolas compreendam que é hora de mudar, de começar a desbravar novos caminhos, com responsabilidade e real senso de urgência. Achar que ficar parado, aguardando o nevoeiro passar, para melhor enxergar o caminho, é uma ilusão. Ou pior: um autoengano.

Vitória Rodrigues e Silva
Fundamento Assessoria

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