No artigo “Um currículo para o futuro dos estudantes”¹, Phil Lambert elenca os objetivos gerais de aprendizagem que muitos países almejam proporcionar a seus jovens:
Quando consideradas em conjunto, as mudanças desejadas dizem respeito a preparar os jovens com competências que contribuam para o bem-estar do indivíduo, da comunidade local, do país e do planeta e de sua gente: bem-estar econômico, social, ambiental e pessoal. Em essência, os países desejam que seus jovens sejam:
- capazes de se comunicar em e para várias circunstâncias e propósitos, tornando-se pensadores críticos e analistas de dados (letramento e numeracia);
● ágeis – com flexibilidade de espírito e habilidades para responder a circunstâncias desconhecidas ou inesperadas;
● compassivos e empáticos – comprometidos com a redução da violência e com o respeito aos outros;
● inovadores – com habilidades e atitudes empreendedoras e inovadoras; criativos; com a capacidade e o desejo de criar o novo;
● reflexivos, responsivos e críticos – demonstrem comportamentos sociais empreendedores, bem como habilidades sociais;
● pensadores globais – considerem os impactos locais e globais decorrentes de ações e respostas;
● letrados digitalmente – com habilidades para se adaptar às novas tecnologias, aproveitar oportunidades e também compreender e gerenciar riscos;
● positivos sobre o próprio potencial e contribuição – resilientes, persistentes e participativos;
● justos – valorizem a sustentabilidade (social; ambiental; econômica); éticos;
● confiáveis – demonstrem consideração pelos outros, colaborando, demonstrando autocontrole e sendo confiáveis.
Onde estaria a impropriedade em desejar que todos os estudantes, ao concluir a etapa da Educação Básica, apresentem essas qualidades?
O autor ressalta que elas não substituem os clássicos objetivos de caráter mais acadêmico, dominando com segurança conceitos e procedimentos nas várias áreas de conhecimento. Até porque ninguém pode ser crítico, analítico, criativo e pensador global sem excelente domínio de leitura, capacidade de realizar pensamentos matemáticos diversos, conhecer informações e conceitos científicos. Mas esses conteúdos clássicos devem estar a serviço de aprendizagens condizentes com o presente e, ainda mais, as necessidades futuras.
Esse parece ser o ponto crucial das discussões acerca de currículo nesse momento. A adoção dessa pauta de objetivos gerais de aprendizagem não deve ocupar o lugar da longa, quase infindável, lista de conteúdos que marcaram os currículos brasileiros até hoje. O que inúmeros especialistas estão chamando atenção é que não se trata disso ou aquilo, mas da articulação de ambos, selecionando o que é de fato relevante na formação dos estudantes. E garantir que de fato tais objetivos sejam atingidos (isto é, não basta apenas constar dos documentos legais).
A tarefa não é simples ou fácil, e está por exigir os melhores esforços de especialistas de várias áreas para conseguir compor propostas curriculares consistentes e consequentes. Mas é perfeitamente possível. A elaboração de uma boa matriz curricular será certamente a pedra de toque das escolas e, por extensão, de boas coleções didáticas, que vão favorecer a sua implementação.
O artigo foi publicado pelo site Porvir e está disponível em https://porvir.org/um-curriculo-para-o-futuro-dos-estudantes/